quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Dinâmicas de Grupo - CASO MIGUEL

Instruções

01. O Coordenador distribuirá uma cópia do exercício CASO MIGUEL a cada participante do grupo.

02. O Coordenador solicitará voluntários para a leitura do texto, para que o exercício não fique monótono.

03. Após a leitura da primeira parte, o Coordenador solicitará ao grupo que teça comentários a respeito do texto.

04. Após o debate, o Coordenador distribuirá uma cópia da segunda parte do exercício, seguindo os mesmos procedimentos para a leitura.

05. É aberto um novo debate e solicitado que os participantes teçam comentários sobre os exercícios.

CASO MIGUEL

Miguel é um artista, solteiro, de boa aparência, 33 anos de idade. Eis, a seguir, como foi percebido por diversas pessoas no dia X.

RELATO DA MÃE

"Miguel levantou correndo, não quis tomar café, não ligou para o bolo que eu havia feito especialmente para ele. Só apanhou o cigarro e o fósforo. Não quis botar o cachecol que eu dei. Disse que estava com pressa e reagiu com impaciência a meus pedidos para se alimentar e se abrigar. Ele continua sendo uma criança que precisa de atendimento, pois não reconhece o que é bom para si próprio".

RELATO DO CHOFER DE TÁXI

"Hoje de manhã apanhei um sujeito que eu não fui muito com a cara dele. Estava de cara amarrada, seco, não queria saber de conversa. Tentei falar sobre futebol, sobre política, sobre o tráfego e sempre me mandou calar a boca, dizendo que tinha que se concentrar. Desconfio que ele é um cara subversivo, desses que a polícia anda procurando ou um desses sujeitos que assaltam chofer de táxi. Aposto como andava armado. Fiquei louco para me livrar dele".

RELATO DO GARÇOM DE BOATE

"Ontem à noite ele chegou aqui acompanhado de uma morena, bem bonita por sinal, mas não deu a mínima bola para ela. Passou o tempo todo olhando para tudo que era mulher que chegava. Quando entrou uma loura de vestido colante, me chamou e queria saber quem era. Como eu não conhecia, não teve dúvida: foi na mesa dela falar com ela. Eu disfarcei e passei por perto e só pude ouvir que ele marcava um encontro às 09:00h da manhã, bem nas barbas do acompanhante dela! Sujeito peitudo! Eu também dou minhas voltinhas, mas essa foi demais..."

RELATO DO ZELADOR DO EDIFÍCIO

"Ele não é muito certo da bola não, às vezes cumprimenta, às vezes finge que não vê ninguém. As conversas dele a gente não entende. É parecido com um parente meu que enlouqueceu. No dia X de manhã, chegou até falando sozinho. Eu dei bom dia e ele olhou com um olhar estranho e disse que tudo no mundo era relativo, que as palavras não eram iguais pra todos e nem as pessoas. Me deu um puxão na gola e apontou pra senhora que passava e disse que cada um que olhava pra ela via uma coisa diferente. Disse também que, quando ele pintava um quadro, aquilo é que era a realidade. Dava risada. Está na cara que ele é lunático".

RELATO DA FAXINEIRA

"Ele anda sempre com um ar misterioso. Os quadros que ele pinta, a gente não entende. Quando ele chegou, na manhã do dia X, ele me olhou meio enviesado e eu tive um pressentimento de que ia acontecer alguma coisa ruim. Pouco depois chegou a moça loura. Ela me perguntou aonde ele se encontrava e eu disse. Daí a pouco eu a ouvi gritar e acudi correndo. Abri a porta de supetão e ele estava com uma cara furiosa olhando para ela, cheio de ódio. Ela estava jogada no divã, e no chão tinha uma faca. Eu saí gritando: Assassino! Assassino!"

Eis, a seguir, como Miguel relata o que ocorreu no dia X.

"Eu me dedico à pintura de corpo e alma. O resto não tem importância. Há meses que quero pintar uma Madona do século XX, mas não encontro uma modelo adequada, que encare a beleza, a pureza e o sofrimento que eu quero retratar.

Na véspera do dia X, uma amiga me telefonou dizendo que tinha encontrado a modelo que eu procurava e propôs de nos encontrarmos na boate que ela frequentava. Eu estava ansioso para vê-la. Quando ela chegou, fiquei fascinado, era exatamente o que eu queria! Não tive dúvida, fui até a mesa dela, me apresentei e pedi para ela posar para mim. Ela aceitou e marcamos no atelier às 09:00h da manhã. Eu nem dormi direito aquela noite. Me levantei ansioso, louco para começar o quadro, nem podia tomar café de tão algariado.

No táxi, comecei a fazer um esboço, pensando nos ângulos da figura, no jogo de luz e sombra, na textura, nos matizes...

Quando entrei no edifício, eu estava cantando baixinho. O zelador falou comigo e eu nem tinha prestado atenção. Aí eu perguntei: "O que foi?" e ele disse: "Bom dia! Nada mais do que bom dia!" Ele não sabia o que aquele dia significava para mim! Sonhos, fantasias, aspirações, tudo iria se tornar realidade enfim, com a execução daquele quadro! Eu tentei explicar para ele. Eu disse que a verdade era relativa, que cada pessoa vê a mesma coisa de forma diferente. Quando eu pinto um quadro, aquilo é a minha realidade. Ele me chamou de lunático. Eu dei uma risada e disse: "Está aí a prova do que eu disse, o lunático que você vê, não existe!"

Quando eu subia a escada, a faxineira veio me espiar. Não gosto daquela velha mexeriqueira.

Entrei no atelier e comecei a preparar a tela e as tintas. Quando eu estava limpando a paleta com uma faca, tocou a campanhia, abri a porta e a moça entrou. Ela estava com o mesmo vestido da véspera e explicou que passara a noite em claro, numa festa. Eu pedi que sentasse no local indicado e que olhasse para o alto, que imaginasse inocentes sofrendo, que ... Aí ela me enlaçou o pescoço com os braços e disse que era simpático. Eu afastei seus braços e perguntei se ela tinha bebido. Ela disse que sim, que a festa estava ótima, que foi pena eu não ter estado lá, que ela sentiu falta, que gostava de mim. Quando me enlaçou de novo, eu a empurrei, ela caiu no divã e gritou. Nesse instante a faxineira entrou e saiu berrando: Assassino! Assassino!

A loura levantou-se e foi embora me chamando de idiota.

A minha Madona!!"

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